bêbados, bigodes, bundas.
flash!
um flanêur, um gonzo. “the last-man standing after an all-night drinking marathon”. e eis sabi wabi – ou joão francisco hein – como preferir. o primeiro drink da maratona será em tokyo, japão. mas, como qualquer viagem para a ásia, ou melhor, como qualquer viagem, precisamos fazer escalas.
joão francisco escreve. em porto alegre, onde vive, existem 8 mil livros, todos do pai. podemos dizer que o amor pela literatura vem do berço. desde os 19, escreve para a void, onde começou como estagiário, e terminou como sócio.
então, em um belo dia, 'kiko' acordou, e como jack kerouac, decidiu pôr os pés na estrada. e aqui, nesse momento – o momento em que todos queremos que chegue em nossas próprias vidas – decide fotografar. de verdade.
um caderno, uma caneta e câmeras: uma digital e quinze descartáveis. era mais que o necessário.
“precisei largar tudo para criar novas coisas. a destruição funcionou como forma de criação. uma viagem de três meses pela ásia.”.
emirados árabes unidos. um começo tímido. em seguida, japão.
o alter-ego de ‘kiko’ surge da filosofia wabi-sabi, um conceito nipônico, uma concepção que enaltece a imperfeição, a impermanência, e a inconstância.
de acordo com a fábula, o jovem sen no rikyu desejando compreender a cerimônia do chá, busca o professor takeno joo. como exercício, joo ordena ao aluno que prepare o jardim. sen no rikyu o faz com perfeição, e então, balança uma cerejeira para que as folhas caiam sobre o jardim. o mestre joo aceita o pupilo rikyu.
desde então, joão esteve na china, coréia do norte, vietnã, laos, camboja, tailândia, butão e índia.
como em um devaneio, joão diz:
“imperfeito. impermanente. incompleto. [...] tudo isso me chama muita atenção. e como eu poderia levar isso pro lado ocidental? a fábula do jardim. as imperfeições que são inerentes ao meio em que vivemos. [...] uma coisa é o wabisabi no japão, mas a minha idéia era: ‘como trazer isso para dentro do meu mundo?’. [....] então eu quis trazer esse lado sujo, esse lado mais espontâneo.”
assim como uma câmera fotográfica, que espelha a realidade, joão espelhou a palavra. com esse anagrama, conseguiu então, traduzir o que desejava para o projeto. sai wabi-sabi, entra sabi wabi. e aqui, começa o desafio.
como o aluno sen no rikyu, joão francisco aceita a incerteza, a impermanência. utilizar o filme como suporte, nada mais seria do que
‘balançar a cerejeira’, e permitir as imperfeições.
“a insegurança de não saber o que vai sair. eu gosto dessa insegurança. o wabi-sabi tem a questão de aceitar os ciclos. aceitar a vida e a morte. e o da fotografia também. aceitar o ciclo do momento. talvez em algum momento ele tenha sido capturado de uma maneira, e talvez em outro ele não tenha, sequer, sido capturado.”
com o processo, o fotógrafo percebeu que, ao optar por uma câmera descartável, optava por um ciclo. e, dentre as câmeras fotográficas, a descartável teria o menor dos ciclos: 27 exposições. as impermanências.
o que, de fato, permanece?
a obra.
este, com certeza, torna-se o maior desafio de nosso herói: documentar uma geração. ‘kiko’ quer descobrir, desvendar.
desde o início, joão contou com o apoio de amigos – como o rafael triboli, que o ajudou a dominar a “cerimônia da fotografia” (da-lhe takeno joo made in brazil!) – e de estranhos, que o ajudam a fotografar, a serem fotografados, e assim por diante.
“considero o sabi wabi como um projeto inacabado. pra sempre. e isso motiva muito. me sinto agraciado por fotografar.”
ainda em 2016, 'kiko' lançou uma série de 3 zines, “os 3 c’s: china, coréia do norte e cuba” na parada gráfica em porto alegre, onde inclui fotografias inéditas dos países comunistas.
enquanto não temos acesso a série, seguem imagens que editamos entre as 2000 que o kiko nos enviou.