ana harff, sem título, buenos aires, 2017. © ana harff

FÍSICO-QUÍMICO-SENSÍVEL

ana harff nasceu em 1987 no rio de janeiro. estudou jornalismo em natal e arqueologia em buenos aires. trabalha como tradutora na capital da argentina e é apaixonada por dança. mas foi quando esbarrou com a fotografia, que encontrou seu campo de experimentações mais apropriado: na cadência suave e livre entre o que é físico, o que é químico, e o que é sensível. 

‍ana harff, sem título, buenos aires, 2017. © ana harff

qual sua primeira memória com a fotografia?

de quando eu ia na casa da minha avó materna. lembro de eu e meu irmão sentados no chão, e minha avó trazendo álbuns enormes e pesados embaixo dos braços. ela abriu um deles, colocou no chão para que pudéssemos ver, e começou a contar a história de cada um daqueles rostos desconhecidos nas fotografias em preto e branco. aqueles rostos sérios pareciam tão distantes, tão perdidos. não conseguia entender e ao mesmo tempo me assombrava que aquelas pessoas, que eu nunca iria conhecer, fizeram parte da minha história, muito antes de eu nascer. 

lembra de alguma foto muito significativa de quando aprendeu a fotografar?

lembro de como me senti tirando fotos pela primeira vez. faço dança há alguns anos e um dia ia ter um evento de dança em que eu não iria dançar. então resolvi levar uma câmera usada, que tinha comprado há pouco meses. fui sem pretensão nenhuma mesmo, só para poder fazer um registro das minhas amigas... e me apaixonei. a sensação de capturá-las em pleno movimento… era como se estivesse lá no palco com elas. desde esse dia, não larguei mais a câmera. 

 

‍ana harff, sem título, buenos aires, 2017. © ana harff

por que escolheu a fotografia analógica?

gosto de pensar que a analógica foi quem me escolheu. sempre gostei de manualidades, de processos artesanais. então ir para o analógico então foi uma escolha natural para mim. amo a parte física da fotografia, sentir as fotos, saber que elas existem no plano material, aprender sobre químicos e diferentes processos de revelação. saber que estou aprendendo técnicas que são usadas da mesma maneira há décadas. também aprendi a pensar mais, muito mais, antes de bater uma foto. me ajudou também a desacelerar, pois sou uma pessoa muito ansiosa. sinto que tenho muito mais controle do que estou fazendo ao ter um número tão limitado de fotografias para fazer.

135 ou 120?

a grande maioria dos meus trabalhos atuais faço com 35mm, mas comecei fotografando com 120. todo meu projeto única, por exemplo, é feito em 120.

preto e branco ou cor?

depende. quando comecei, trabalhava quase que exclusivamente com pb, agora, estou na fase das cores. e para cores, quanto mais vibrante e saturadas melhor. mas sou muito mutável quanto a isso, pode ser que no dia de amanhã goste de cores suaves e lavadas.

ana harff, eugênia, buenos aires, 2017. © ana harff

que câmeras você usa?

em 135  – canon elan ii e 50mm f/1.8 ou canon at-1, e 50mm f/1.8.

em 120 – yashica d 3.5 mm & holga.

quais seus filmes e câmeras preferidos?

gosto muito de usar o kodak pro image 100 puxado. ele me dá cores vibrantes, contraste e um grão que eu particularmente amo. lomochrome purple também é um filme que tem um lugar especial no meu coração. gosto de ver como dependendo da luz, o resultado é bem diferente. mas sempre que tenho oportunidade provo novos filmes para não sentir que estou sempre na mesmice. 

ana harff, how do you view the world, buenos aires, 2017. © ana harff

como teve a ideia de começar o projeto única?

o única esteve latente dentro de mim antes mesmo de eu me interessar na fotografia. é quase uma missão impossível viver em um ambiente social onde permitam que a mulher se sinta confortável com o seu corpo. então, eu tinha a intenção de resgatar nas minhas fotos os momentos de felicidade apenas por sermos nós mesmas, diferentes, únicas. mostrar que no meio de todo esse caos mental e social em que vivemos, também há momentos de calmaria, de autoconfiança e de beleza enormes. até agora, todas as mulheres que quiseram participar do projeto o fizeram porque queriam ter um registro desse momento de força, de amor próprio pelo qual passavam. e para mim é uma honra poder estar presente compartilhando e ser a ferramenta de possibilidade para que esse momento se faça permanente. 

‍ana harff, sem título, buenos aires, 2017. © ana harff

o que te inspira a fotografar?

as pessoas que eu conheço e as histórias que compartilhamos. ser mulher, sentir as mulheres a minha volta, conhecer suas fortalezas. acho que isso intensificou meu trabalho de uma maneira que jamais poderia ter imaginado. também me inspiro muito olhando as cores e texturas de flores e plantas. 

quais fotógrafos te inspiram?

ufa, essa pergunta é difícil de responder. vou citar uma pequena lista com os primeiros nomes que me veem em mente: francesca woodman, ryan muirhead, sally mann, alfred cheney johnston e mark sink.

ana harff, helena, buenos aires, 2017. © ana harff

com o que você trabalhava ou estudava até começar a fotografar?

fiz jornalismo na ufrn, mas abandonei na metade para ir morar na argentina em 2009. aqui, cursei arqueologia pela universidade de buenos aires. e quanto ao trabalho sou tradutora (faço legendas para filmes) até hoje. infelizmente, a fotografia ainda não é meu único trabalho. estou me esforçando para que seja a única em um futuro mais breve possível.

que dicas você daria pra quem quer experimentar a fotografia analógica?

a fotografia analógica é experimentação pura! e essa é a parte mais fascinante do processo. fotografia é algo muito pessoal. eu, por exemplo, gosto de cores vibrantes, algo de grão e contraste. para isso, puxar filmes é sempre uma boa opção. duplas exposições é uma arte que ainda me quebra a cabeça. não há fórmula mágica e exata. amo texturas, amo cores, pessoas, plantas… acho que com isso a dupla exposição foi um processo natural para mim.

‍ana harff, sem título, buenos aires, 2017. © ana harff

e por falar em exposições, a ana organizou um pdf com mais detalhes e dicas de suas duplas. divirta-se!

autor

Juliana Rocha

fotógrafa por urgência criativa.

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