bruno machado, paquetá, 2016. © bruno machado / o álbum

FANTASIAR

rio de fevereiro. calor, 40 graus. cerveja xoxa e mijo. carnaval. ah, carnaval. este, que tornou-se objeto de pesquisa de antropólogos e sociólogos, que inflama o coração dos mais apaixonados, que derrama lágrimas dos mais emocionados. ele,  que colore a cidade, desde os dias em que o perfume era usado para sorrir. desde os dias em que cartola era mais do que um chapéu.

juliana rocha, gamboa, 2016. © juliana rocha / o álbum

mas não se engane. a luta apenas começou. basta acreditar, que a infância brota dos bueiros da cidade. despedaçando alvarás. destituindo leis. você talvez precise vencer desafios (atravessar alguns túneis, pode ajudar), mas por aquelas bandas - que não são bem as de ipanema - você vai se reencontrar. se reconectar. os bate-bolas. as serpentinas. as cores. as fantasias! por estas ruas, empoeiradas, veremos sorrisos. e por lá, dançaremos, juntos.

"no empurra-empurra, no roça-roça

a massa avança num filme medieval

a fantasia tá na sua cabeça

tá começando mais um carnaval

o carnaval, quem é que faz?

o carnaval ainda quem faz é o folião"

(baiana system – o carnaval quem é que faz?)

bruno machado, gamboa, 2016. © bruno machado / o álbum

dê à um homem uma máscara, e ele lhes dirá a verdade. dizem isto por aí. e, pensando bem, eles tem razão. na verdade, era disto mesmo que a nossa cidade, precisava: acreditar, de verdade. na fantasia. num carnaval como catarse. num carnaval como resgate. que reúne crentes e mais crentes em seus ritos de desconstrução de gêneros, de regras. nesta semana sagrada onde não existe o sagrado. não existem cruzes, não existem reis, a não ser os momos.

bruno machado, gamboa, 2016. © bruno machado / o álbum

ainda encucado nessa questão da fantasia, eu me pergunto: e para nós, fotógrafos? que fantasia seria melhor do que uma câmera?  que lugar no espaço e no tempo, seria melhor para perdermos as inseguranças, e fantasiar?  documentar as belezas do caos que nos cerca, sem julgamento, sem preconceito?

como diriam os fotojornalistas: “f/8 and be there”. o mistério, o próprio carnaval nos traz.

juliana rocha, gamboa 2016. © juliana rocha / o álbum

e, então, quando percebemos: quarta-feira. as cinzas. tempus fugit, amigos. e, neste decorrer, pensamos sobre o que experimentamos. e, ah... como ouvi um dia, entre uma cerveja e um riso: “cada bloco, um amor”.

bruno machado, paquetá, 2016. © bruno machado / o álbum

então, você corre ao laboratório, com suor nas mãos e sonhos nos olhos. a fotografia analógica, assim como o carnaval, nos permite fantasiar. não existe controle. e quando você vê as imagens, você suspira. cabe aqui uma pequena correção ao entreouvido pelo rio de janeiro: “cada frame, um amor”

a fotografia analógica nos proporciona isto. conectar. o carnaval, nos proporciona isto. resgatar. e, por isto, nos unimos. e cantamos, e dançamos. para resistir em uma cidade fragmentada.

juliana rocha, gamboa 2016. © juliana rocha / o álbum

para mergulhar ainda mais no processo, visite a seção #ishootfilm, no i hate flash. lá, ao lado de 04 fotógrafos, expomos as emoções que registramos da folia.

autor

Bruno Machado

fotógrafo freelancer no rio de janeiro.

Publicações relacionadas

ROLO

guilherme galembeck nos conta dos desafios em fotografar, editar e publicar um fotolivro no brasil.

EDITAR, EDITAR, EDITAR

'entendo que – especialmente em uma perspectiva ligada ao fotolivro – não existe um projeto fotográfico sem uma boa edição'.

NOITE

os postes e os neons guiam o seu caminho. bares, grades, santos, signos deste submundo, são o seu norte.

FÍSICO-QUÍMICO-SENSÍVEL

um passeio pelos processos e projetos de ana harff.

IMAGEM

bruno mello nos conta sobre os prêmios, os processos e os percalços em dirigir e fotografar no brasil.